“Nossos interesses
coletivos estão acima dos interesses individuais”.
Assisti um vídeo nesta semana, onde
uma criança Cubana, em poucas palavras, respondeu aos milhares de questionamentos
que nós pastorais sociais e movimentos populares sofremos ao longo de nossa
vida e caminhada. Depois de me emocionar com as palavras e sua expressão,
decidi também que quando nos perguntarem novamente porque lutamos, direi com o
contentamento desta criança Cubana que “nossos interesses coletivos estão acima
dos interesses individuais”. Já é o suficiente.
Diante de suas limitações físicas, o
menino respondeu em meio a uma multidão no Congresso de Jovens Cubanos, ao que
sente seu coração. “Tudo que sou hoje...Por terem instalado um computador em
minha casa, que me deu a possibilidade de integrar-me a sociedade como qualquer
outra criança Cubana. Isso só acontece em Cuba, porque aqui há uma revolução,
onde há igualdade plena que é um dos parâmetros de conceitos para revolução.
Para demonstrar que meus interesses coletivos estão por cima dos interesses
individuais. Quero dizer a Fidel e a Raul que tenho minhas mãos e pernas
limitadas, mas que minha mente e meu coração estão a serviço da revolução”.
Quando terminei de assistir a sua fala, fiquei
pensando em todas as coisas que já fizemos e construímos até aqui. Tudo em nome de vários sentimentos e
revolução. Vontade de transformar e ver o povo feliz. Parece bastante utópico
falar e de certa maneira é. No entanto, seria mais real se “nossos interesses
coletivos estivessem acima dos interesses individuais”. Falo a partir do
estudioso Venezuelano, que li a partir da Jornalista Elaine Tavares, Ludovico Silva,
o qual menciona a tristeza que é a escravização pelo consumo, a mais-valia
ideológica e a necessidade imediata de nos desprendermos das mazelas do
capital. Isso não quer dizer que temos que deixar de comer, vestir roupas,
comprar calçados, tomar banho...Quer dizer que devemos lutar para que
coletivamente todos tenhamos o que comer, o que vestir, o que usar, um lar para
fazer nascer a família e viver em paz.
Mas para tudo isso acontecer, é
preciso mobilização. Não basta cada um fazer a sua parte. É necessário cada
um\a fazer a sua parte coletivamente. Transformação, talvez com esta palavra a
gente possa entender melhor o sentido desta importante tarefa. Vestir-se de
esperança mas também de ações. Levar o povo para as ruas e colocar em pauta os
poderes que nos ferem. E quando estamos nas ruas, deixemos que nos critiquem,
desde que “nossa consciência e coração estejam a serviço da revolução”.
E
quando falarem que Cuba possui uma Ditadura Comunista, bom, nas palavras desta
criança que citei no início desta coluna, podemos perceber o que essa
“ditadura” faz. E quando falarem que devemos ir embora, “Vá para Cuba!”, bom,
gostaríamos, mas precisamos transformar outros espaços, nossa tarefa é
revolucionar nosso país. E por último, quando ousarem dizer “Tinha que ser do
PT”, muito bem, vamos tentar dialogar até que se entenda que ser de esquerda
vai muito além de uma sigla e que nem essa e nem outra representa “nossos
interesses coletivos, que estão acima dos interesses individuais”. Se ainda
assim, nenhuma dessas explicações der certo, melhor é trilhar outros caminhos,
buscando transformar nossas realidades com pessoas que também sonham com a
construção de um mundo onde todos\as tenham dignidade.
É
com o coletivo que no combate permanecemos mais consistentes e fortes ao que
aparentam nossos inimigos. Portanto,
apesar das ameaças, dos abusos de poder, nos tirar a liberdade somente nas
trincheiras da revolução, quando nossos corpos não mais aguentarem as enfermidades
da consciência dos capitalistas e suas armas nos ferirem por completo. Ainda
assim, restarão aqueles\as que pela vida seguirão a causa. Portanto, não há o
que temer, quando nossa vontade é coletiva e cheia de sonhos, de esperança, de
dignidade.
Até
a vitória!
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“Cuando se nace rebelde se muere en paz”.
Iniciamos
a coluna desta semana, com um título de frase exposta por um de nossos
companheiros que encontra-se em Honduras. Sobre suas palavras, gostaria de
utilizar este espaço para mostrar mais um documento importante, que remete a
nova denúncia sobre todas as atemorizações e ameaças que temos sofrido nos
últimos tempos, por defender a causa da vida, da dignidade humana. Esta carta
foi escrita em 09 de janeiro de 2016 e pelo teor de sua importância e
necessidade de divulgação, vestimos a coluna, com estas nuas palavras.
“O
Coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Pastoral da Juventude
Rural (PJR), do estado de Santa Catarina, vem a público denunciar as mazelas,
perturbações, ameaças, discursos de ódio, desrespeito, difamação, insultos,
calúnias, pelas quais, frequentemente as pessoas ligadas a este coletivo têm
passado. Desde que essas duas pastorais assumiram a luta de classes na região e
a luta pela vida dos povos, a exemplo dos indígenas, caboclos\as, negros\as,
brancos\as, pardos\as, quilombolas, perseguições têm ocorrido. No entanto, é
inconcebível aceitar a hostilidade, a repugnância e odiosidade aos nossos
companheiros\as.
É
inadmissível aceitar a atemorização. Como um coletivo valente, que se propõe a
dialogar e construir pautas concretas em defesa da vida, somos difamados ao nos
pronunciarmos em favor dos explorados\as e lascados\as da sociedade,
especialmente nas sessões realizadas na Câmara de Vereadores de São Miguel do
Oeste e de outros municípios, sendo este coletivo intitulado de ‘baderneiro’ e
‘tumultuador’. Dentro das universidades, nossos companheiros\as têm sofrido
ataques e processos por estimularem a democracia e a participação dos estudantes
na defesa de seus direitos.
Nas
escolas municipais, onde parte deste coletivo ainda se faz presente, também há
preconceitos e as discrepâncias de pensamentos acabam refletindo em ódio
profundo contra as organizações onde estamos inseridos\as. Em outros espaços
públicos e mobilizações como o Grito dos Excluídos\as, durante o sete de
setembro, no município de São Miguel do Oeste, onde denunciamos a mídia
golpista e as atrocidades cometidas contra os jovens negros\as e pobres, somos
insultados\as, perseguidos\as, fotografados\as, filmados\as. Nas redes sociais,
ao divulgarmos a desinformação e o descompromisso dos governos e das mídias com
o povo, o coletivo também é atacado fortemente com discursos fascistas, que
remetem ao ódio e estimulam a violência, até a morte.
Há
poucos dias, também recebemos ameaças e intimidações de advogados por meio de
ligações telefônicas e via rede social, após denunciarmos a expulsão de
indígenas da rodoviária deste município. Nesta semana, outras ameaças foram
proferidas aos nossos\as companheiros\as com dizeres como: “Conhecemos quem é,
onde mora e número de residência”.
Diante
de tudo isso, reafirmamos coletivamente nosso compromisso com a vida dos povos,
com a vida e luta de nossos\as companheiros\as, que na sua consistência em
combater a miséria herdada dos Capitalistas, enfrentam com firmeza na sua
opção, o terror que tem se disseminado por toda América Latina e mais próximo,
nas suas regiões de atuação. Portanto, denegamos tais amedrontamentos e garantimos
nossa defesa, inclusive judicialmente, caso essas situações persistam”.
Com
este mesmo sentimento de resistência, a Palavra Nua reafirma a sua opção. É
certo que tanto ódio e preconceito para com as lutas populares provenham por
conta da desinformação dissipada pelo Capitalismo, sendo nossa tarefa,
informar. Aliás, a informação é uma vigorosa arma para combater quem nos
explora, mata, fere, humilha. É por seu espargimento que seguimos a constante
caminhada.
Até
a vitória.
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Resistimos e denunciamos!
Aos
leitores da Palavra Nua, um 2016 de muitos desafios. Nesta Edição, prestamos
solidariedade aos Jornalistas, companheiros Argentinos, que sofreram demissão
em massa com a tomada de Macri e sua repressão. Divulgamos também, a carta
escrita pelos companheiros\as do Portal Desacato para este próximo período,
replicada pelo Blog Esportes em Debate, e além disso, reafirmamos nosso
compromisso com a vida dos povos, na luta permanente contra o latifúndio.
“O
fim de 2015 apresenta, para os que formam parte do Portal Desacato, uma
sensação contraditória. Se por um lado o veículo se consolidou depois de 8 anos
ininterruptos de existência e aumentam constantemente os leitores e seguidores
nas redes, não é menos verdadeiro que na derradeira do ano, a comunicação
anticapitalista na Pátria Grande e no Brasil sofre ataques que não permitem
esperar um 2016 tranquilo e tolerante por parte dos setores fascistas da
sociedade.
A
vitória da direita na Argentina e no parlamento Venezuelano fará perder
conquistas de unidade que foram obtidas no início do século XXI e que vinham
sendo gestadas com a participação popular há mais de duas décadas. As
consequências desse avanço intolerante e de corte fascistoide se percebem já na
Argentina desde 10 de dezembro do ano que finda. Na Venezuela veremos o
desmanche das conquistas a partir de 5 de janeiro do ano que começa.
No
Brasil a questão é diferente, porque não se tinha avançado quase nada em
matéria de comunicação, com exceção de algumas decisões no segundo mandato do
Presidente Lula. Houve medo nos governos petistas e conformismo na categoria
jornalística e na Classe Trabalhadora com a hegemonia nefasta da Globo, Veja,
Folha de São Paulo e seus imitadores. Nesse cenário de aceitação e conformismo
com a comunicação uniforme e mentirosa das elites, a violência grosseira,
brutal, diária e ordinária contra os jornalistas de contracorrente, não cessa
nem por uma semana no país.
Por
isso os sentimentos com que chegamos ao epílogo do ano nos deparam um futuro
certamente duro, onde muitas vezes a militância comunicacional e o jornalismo
se encontrarão por força da necessidade e para construir brechas juntos.
Além
de afirmarmos o Portal Desacato, como veículo pedagógico e formador de opinião,
a partir da entrega da Outra Informação, não descuidamos a trajetória, ainda
incipiente, da nossa Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura, dirigida
a trilhar conceitos como Mídia dos Trabalhadores a partir do serviço e da
parceria em todas as áreas do jornalismo, da comunicação e da cultura. Por
outro lado, a militância jornalística ficou de manifesto a serviço dos leitores
em várias oportunidades, das quais, por respeito ao esforço que cada jornalista
fez, não faremos menção especial. Houve que se expor em 2015 e em 2016 a
exposição será maior ainda.
O
imenso e inesperado apoio que obteve a pequena nota de solidariedade com nossa
companheira Claudia Weinman, jovem e valente repórter do Portal, quando foi
ameaçada, dias atrás, por causa de uma nota, demonstra a maturidade cívica de
milhares de brasileiros enquanto à necessidade de serem reportados pela Outra
Informação para fugir da verdade única uniformada por Globo, Veja, Folha de São
Paulo e outros veículos das elites.
Comentários
fascistas, dos quais reportamos dois apenas dos últimos dias, referindo-se à
visão das elites sobre nossos irmão indígenas, minimamente publicáveis,
demonstram as contradições e agressões que devemos superar em paz e com amor à
tarefa, frente à onda de violência fascista que assola Brasil e América Latina:
“Lugar de índio e nas aldeias deles e não na cidades. vcs q estão com pena
deles dão um cômodo da casa de vcs p eles ficarem.Vcs não tem noção …”. “E
mais… Vamos parar com esse discursinho de “500 anos” porque isso não cola mais…
Quem não está contente… Que abdique da vida “burguesa” da esquerda e vá morar
na Amazônia, no Pará ou até na PQP. Estou realmente cansado dessa lorota’”.
Nesse
Brasil discriminatório, ‘higienista’, excludente, racista, etnicista, machista,
destruidor das espécies e da natureza, vivemos e informamos. Nessa Pátria
Grande lutamos pela Liberdade da Palavra, dos Povos e pela Defesa da Natureza e
todos seus seres.
Nesse
Brasil e nessa Pátria Grande, precisaremos fazer parte da construção de uma
Rede de Jornalismo Solidário e Soberano na sua tarefa. Essa que não deixaremos
de alicerçar, para bem dos invisíveis, os excluídos, os marginados e os
perseguidos. Pois, que venha 2016, estamos prontos e armados de Palavras,
Imagens, Sons e Mensagens de amor contra a guerra das elites e dos poderosos. E
assim estaremos até que a Vitória Popular se erga em todos os cantos da Mãe
Terra. Obrigado pela leitura, por acompanhar esta Casa Sempre em Obras, pela
colaboração parceira e pela amizade.
Vamos juntos!
Florianópolis,
Santo Domingo (República Dominicana) e La Coruña (Galícia). Carta assinada por
Raul Fitipaldi, Cofundador do Portal Desacato e da CpCC, Tali Feld Gleiser, Diretora
Geral do Portal Desacato e Rosângela Bion de Assi, Presidente da CpCC.
A
Palavra Nua seguirá vestindo-se da “Outra Informação”, das verdades que doem à
imprensa golpista.
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Não desistiremos. O sonho da esquerda revolucionária resiste!
Em tempos difíceis, onde a América Latina tem sido alvo de tanta
violência e perturbação, é preciso pensar. Principalmente refletir sobre a
nossa capacidade de mobilização. As mudanças históricas sempre aconteceram,
houve conflito, insatisfação e a unidade do povo brasileiro para mudar as
estruturas que ferem toda classe trabalhadora explorada continua essencial.
Temos uma grande imprensa conservadora controlada pelas forças nacionais e
internacionais, que movem-se conforme as ondas imundas do capitalismo, temos
parlamentares trocando votos por cargos, e votos por votos, deputados
desarticulados, prefeitos sem vontade, governo desestimulado e golpistas
representados por pastores e líderes de partidos políticos querendo vender o
que restou do país.
Temos também um grande problema ambiental. Um relatório divulgado
pela Overseas Development Institute (ODI), aponta que mais de 700 milhões de
pessoas viverão em situação de extrema pobreza, caso não haja uma mobilização
efetiva pela causa ambiental. Mas como isso tem sido tratado? Na conferência do
clima em Paris, foi impedida qualquer mobilização popular reivindicando a
‘saúde’ do planeta terra. O caso Mariana, em Minas Gerais é um dos maiores
exemplos de que não há uma preocupação concreta com a causa da vida. E sabem
porque não? Porque o Neoliberalismo trouxe para o Brasil a continuidade da
exploração, da invasão do capital estrangeiro sobre nossas riquezas. Nos basta
avaliar o quanto a Vale custou para estes demônios e o quanto tem custado para
o povo brasileiro que morre sufocado na lama. Nos basta pensar nas pessoas que
ainda estão desaparecidas e nos números não calculados de desaparecidos na
maior catástrofe que já enfrentamos.
Também nos basta já, saber que a desgraça ocorrida em Mariana é
financiada pela imprensa maldita que realmente mostra de que lado está, quando
não divulga os dados concretos e ainda, não questiona, não investiga o que está
por trás de tudo isso. Mas a gente sabe. Ouvia de um companheiro do Movimento
dos Atingidos por Barragens nesta semana, uma observação onde mencionou que
algumas análises, levam a crer, que Minas Gerais não passou por um acidente,
mas talvez tenha sido mesmo algo proposital. Afinal, o que custa mais? Arrumar
um local para depositar rejeitos ou pagar algumas multas para famílias? Se a
imprensa é vendida, se os donos da Samarco financiaram tantas campanhas,
inclusive dos candidatos à presidência e da própria presidente, pagar multas
pelo derramamento de lama naquele local não custaria muito. A prova está no que
vemos hoje. Rios e animais que perderam a vida. Seres humanos que perderam sua
história. Mas para o capital, isso não interessa, o lucro está acima de todas
as coisas.
No Brasil, embora alguns avanços tenham ocorrido com o governo Lula e
Dilma, se pararmos para pensar, para a classe trabalhadora, que quer o
Socialismo, que quer ser livre, isso não nos alegra. Reformar estruturas dentro
do capitalismo jamais acabará com a exploração, com o assassinato da mãe terra,
porque no capitalismo, só existe espaço para um bloco no poder e esse bloco é
quem controla todas as outras frações da burguesia que exterminam a vida do
povo brasileiro. A burguesia que quer a PEC 215, a burguesia quer “O Sul é o
meu país”, acha natural o machismo, e considera bonito o assassinato de haitianos
e das demais diversidades, muitos pobres alienados, infelizmente também
concordam com tudo isso.
Possibilitar o crescimento de cooperativas e ‘melhorar’ a vida de uma
parcela que nunca teve qualquer oportunidade, pode ter sido positivo na
história, mas a estrutura está engessada e nunca será aceito que o pobre tenha
dignidade e não seja mais um miserável que engole necessidades todos os dias,
assim como não será aceito que o camponês consiga ter autonomia. Nada disso
cabe no capitalismo onde predomina um jogo de poder constante, onde o
Imperialismo e culturas estadunidenses prevalecem sobre nossa cultura, nossas
roupas, nossos calçados, nossas vidas.
Além do que tem acontecido no Brasil, com o avanço de forças
Fascistas, vale ressaltar o que outros países do mundo enfrentam, dois dos
casos, podem ser citados, na Venezuela com a tomada da direita Venezuelana
sobre a Assembleia Nacional e na Argentina, com a Direita assumindo a
presidência ocupada até então por Cristina Kirchner. Em ambos os casos, o que está em jogo nada
mais é do que a manutenção de um determinado bloco no poder aliado a uma forte
corrente de negociatas. A defesa de Mauricio Macri, presidente da Argentina por
exemplo, é de uma ampla abertura do país para o mercado externo, abrindo um
leque de negociações diretamente ligadas ao fortalecimento e rigidez de um
sistema onde prevalece ‘andar sobre as amarras’.
“Mas apesar de tudo isso, latifúndio é feito inço, que precisa
acabar”, diria o cantador Pedro Munhoz. Não podemos desistir. A classe operária
e camponesa precisa assumir a postura. Afinal, pensar no Brasil sobre a base do
PT ou de qualquer outro partido que se apresente hoje não faz sentido,
considerando os ‘acordismos’ feitos. Somos nós, o povo, as gentes, que sobre
todas as dificuldades, teremos que construir a mudança. Como? Denunciando,
saindo das casas cômodas, espalhando informações, disseminando a prática do
trabalho de base. Deixe que o Congresso queime, mas nós não podemos queimar
juntos. Nossa luta é pela vida, então façamos ela. O trabalho de base se faz de
porta em porta. É preciso tirar as ‘botas’ e entrar na casa.
Até a próxima.
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As dores, simplesmente não as queremos mais.
O
ser humano tem vestido-se pouco de esperança, de humildade. Muita riqueza
valorizada, pouca doação com a vida dos outros e outras. Muita exploração,
pouca punição aos corruptos do país. Chega essa época, a memória perturba-me.
Passo a recordar do que ainda me dói no coração. Todo mundo quer ter uma vida
feliz, quer comemorar as conquistas, quer falar da sua vida, contemplar o sol
com um sorriso, mas, as vezes, esses desejos são limitados pelo egoísmo de quem
se acha dono da gente e de tudo que está alicerçado no Brasil.
Lembrei-me
de um final de ano, em que fui convidada para jantar na casa onde trabalhava
como empregada doméstica. O convite chegou-me como novidade, alegria,
satisfação, já que, não era comum fazermos alguma coisa em família durante a
noite nessas datas. Meus pais sempre dormiam cedo e a gente acabava dormindo
também. Mas naquela noite, parecia especial. Vesti a melhor roupa que tinha,
usei um batom de leve, e feliz, me dirigi até o local da festa.
A
ingenuidade é mesmo um perigo. Quem dera pudesse visionar o futuro. Ao chegar
na casa, sujei minha roupa servindo a mesa do jantar, enquanto degustavam da
boa comida, tinha que me levantar para buscar na cozinha o que ainda estava
faltando. Depois de atender a criança, recolhi os pratos, arrumei de novo a
mesa, lavei a louça, e cansada, pedi para ir embora. O convite não era para
festejo, era para que a empregada trabalhasse de graça, em uma noite de festa,
enquanto os demais alimentavam-se tranquilos, sem sujar suas roupas, sem que
precisassem fazer esforço. Noite de festa era para ‘os outros’, não para a
doméstica. Fui para casa, triste. Os anos passaram-se e eu recordava de todas
as vezes em que minha mão de obra foi vendida por ‘migalhisse’, a mais-valia,
os dava o direito de me explorarem em qualquer ocasião.
Tantas
foram as vezes que passei vontade de comer enquanto a dona da casa escondia-se
no quarto para devorar, de uma só vez, o que a gente tinha cai lá uma vez por
ano. Tudo isso me atormentava a mente. A humilhação não parava por aí. A
doméstica, que era eu, dividia a sala de aula, no primeiro ano da faculdade com
pessoas que não precisavam pagar a mensalidade do curso. “Quem te deu o direito
de estudar Jornalismo moça! Volta para faxina!”, isso talvez resuma um pouco.
Mas o que me incomodou mais nesses tempos e me perturba demasiadamente, é que
essa é apenas uma história de humilhação, da sobreposição do lucro, da
desumanização de pessoas que de fato, querem ser donos da gente, querem que
trabalhemos excessivamente até que nossas forças estejam esvaídas.
São
tantas as histórias em que o trabalhador\a é submetido\a a condições de
exaustão. Em que é convidado para uma festa não para ser feliz nela, mas para
servir, mais uma vez, o seu patrão. Quando Marx nos diz que a história da
sociedade é a história da luta de classes, aí está o exemplo. O dinheiro cega
grande parte dos seres humanos. Cega tanto, que os coloca em dívidas, que o faz
escravo, que os domina. Meu companheiro citava o exemplo dos trabalhadores que
até hoje, passam a vida pagando o automóvel que compraram para trabalhar, os
patrões pagando as dívidas de suas festas luxuosas. O que fazer para que essa
história não repita-se mais? Para que o estado não seja o estado da classe
dominante? Para que os povos não tenham que engolir a lama das riquezas que nos
‘valem’ tanto? Para que o suspiro de liberdade não seja apenas de alguns
segundos?
Vistam-se.
Nas palavras, nas ações, na postura política e militante da vida. Eu cansei de
estar ali, servindo a todos\as, enquanto alimentavam-se. Senti muita sede e
hoje sinto mais, coletivamente. Nosso ‘partido’ é a vida, sobre todas as formas
impositivas de lucro. Enquanto as
lágrimas e as dores existirem, nada estará bom o suficiente. Por isso, lutamos.
Nos bastam as ‘reformas’ das nossas dores, simplesmente não as queremos mais.
Hasta!
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Um dia para a história?
Parece
tempo demais não é mesmo. É dessa maneira que a gente percebe o pensamento de
grande parcela das lideranças politiqueiras, que vivem trancadas dentro das
secretarias municipais e seus governos quando falamos na necessidade de dedicar
tempo para estudar a história, para falar sobre a Consciência Negra, para
entender a forma de vida dos indígenas, a morte dos caboclos\as do Contestado.
É preciso pedir. Mais que um dia para esses estudos já incomoda uma parcela.
Soa como demasiado pedir para que os educadores de nosso município fiquem calados
enquanto ouvimos e vemos Ubuntu.
Vou explicar. Parece confuso o texto
mas o contexto ajuda na reflexão. Durante a realização da atividade de
Consciência Negra no último final de semana, em que participaram lideranças do
governo municipal e diversos educadores, ficamos impressionados\as. A gente
fica imaginando como as pessoas questionam tanto a educação quando não
conseguem ficar sem conversar durante a apresentação de um vídeo. Vimos crianças
atenciosas se imaginando nas falas, nos depoimentos mostrados durante a
abertura do Segundo Seminário da Consciência Negra, enquanto professores faziam
ecoar suas vozes nas conversas paralelas. Que feio. Para completar, uma grande
parte assinou a lista de presença e se retirou antes mesmo da metade da
atividade.
O que também chamou a atenção, é que
lideranças que representam o município, trocaram alfinetadas na mesa mas não
refletiram de fato o que simboliza o Dia da Consciência Negra. Já não é a primeira
vez que a realização de uma atividade como essa passa a ser entendida com
‘menos’ importância aqui na cidade, bem como em muitos lugares do Brasil.
Sem
dúvida, não há como consertar todos esses anos de escravidão, mas essa história
precisa ser lembrada, precisa ser vivenciada, jamais esquecida. Quem constituiu
a região onde vivemos? Foram os indígenas, os negros\as, caboclos\as. Quem
aparece nos seminários das etnias realizados há anos no município? Indígenas
não são nem citados, caboclos\as, negros\as são vistos mas com resistência. Na
Câmara de Vereadores, criam-se sessões solenes para homenagear ‘pioneiros’. A
maioria de nossos vereadores deixam de discutir projetos importantes para a
comunidade, e passam a noite homenageando o fruto de suas campanhas
politiqueiras.
Recordo
muito bem da discussão sobre o projeto que propõe reduzir para um dia as
atividades correspondentes à semana da Consciência Negra. Uma afronta aos
nossos direitos. Me admira muito que o município não tenha um posicionamento em
defesa de quem levantou os muros desta cidade, logo foram expulsos porque não
tinham a mesma relação com a terra que o Europeu demonstrava.
Um
dos argumentos utilizados para justificar a ‘necessidade’ de realizar apenas um
dia para a Consciência Negra é de que as outras etnias também não possuem uma
semana para efetivação de tais atividades. Pois bem, vale lembrar que as outras
etnias tem espaço para se reunir, seus representantes são donos de comércios,
empresas. Importante trazer presente ainda, que nas poucas atividades que são
realizadas pelas etnias que não aparecem no plano midiático tradicional, o som
é ruim, o local fica sem luz e uma série de problemas acontecem. Será que é
dessa forma que querem pensar esse ‘um’ dia para Consciência Negra? Um dia para
a história?
Esperamos
mais. Muito mais. Quem sabe ocupar a “Casa do povo”, já que é nossa, e exigir o
direito de manifestar-se em nome de todos e todas que tombaram neste chão. O
povo brasileiro tem sofrido genocídio constante, tem sido alvo de pistoleiros,
tem sido agredido por governos que no ‘achismo’ cômodo, não fazem esforço algum
para que as escolas possam fazer o estudo sobre aqueles\as que tanto lutaram e
lutam pela sobrevivência e pela vida do planeta. Vamos seguir mobilizados\as. A
luta dos e pelos povos precisa continuar.
Até
a próxima.
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A terra não se vende, não se aluga, não se troca”
“O
rio é algo poético, é cântico, maravilhoso bem comum. Transcende a ideia de recurso
natural, as águas vivem”. Talvez não mais agora. Os filhos\as da terra choram.
O rio doce está contaminado, praticamente morto junto a sua beleza histórica. O
Crime ‘Samarco’ deixa abalos profundos a nossa terra mãe, enquanto seus sócios
se mantem impunes. Inicio a Palavra Nua desta semana falando sobre este caso na
esperança que pelo menos a população do nosso estado se conscientize.
Na
última quarta-feira, tomei um jornal da cidade em minhas mãos e ao fazer a
leitura das primeiras páginas me deparei com algo absurdo. Um texto que
veemente mostra a falta de consciência dos ‘abutres’, assim denominados. O
sujeito criticava a presidente do país e os deputados pelo fato de que a região
aguarda a instalação da barragem e ponte sobre o rio Uruguai. Enfatizou em
outras palavras que é ‘mesquinhagem’ pensar que um empreendimento desse porte
causará desequilíbrio no meio ambiente.
Estive
analisando esse texto entre outros escritos e percebo como é fácil colocarmos a
Boca no Trombone quando se é
protegido pelos sócios do capital. Difícil mesmo é resgatar tudo aquilo que ‘Mariana’
(MG) perde, difícil é compreender como cada família que perdeu suas gentes, sua
casa, parte de sua história em meio a lama se sente. Difícil é se colocar no
lugar dos povos originários que tão bem cuidam da natureza, ver ela destruída,
ver o oceano contaminado, sentir na pele a sobreposição do lucro a vida humana.
Dá
para pelo menos imaginar isso tudo? Muitos nem esforçam-se para entender.
Recordo as muitas vezes que estivemos em Itapiranga-SC fazendo mobilizações
contra a instalação da barragem, contra a morte dos peixes, contra o sumiço a
longo prazo da cidade. Turismo? Diárias de hotel elevadas? E daí? A vida vale
mais assim como a Vale do Rio Doce que tanto lutamos para não ser privatizada.
Agora sentimos a consequência. Os moradores de Itapiranga sabem muito bem o que
é ter a casa invadida pelas águas do Uruguai e pela lama. Está fácil demais
utilizar o ‘trombone’ sem viver a realidade das populações ribeirinhas.
‘Sem
desculpas’ – Assim, o diretor da empresa Samarco se referiu ao caso Mariana. Os
capitalistas não se envergonham mesmo dos crimes que cometem. Conseguem ficar
impunes, tem a imprensa ao seu lado, sim porque até agora, poucos foram os
relatórios confiáveis, um deles que se pode ler é proveniente do Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB). Estive acompanhando uma exposição feita pelo Jornalista
Leonardo Sakamoto, no Havana Connection, 14a edição, junto ao coordenador do
MTST Guilherme Boulos, Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL) e da Jornalista
Laura Capriglione.
Em
seu comentário, Wyllys defende que a empresa Samarco cometeu um grande crime
que não pode ser considerado simples fatalidade, acidente como parte da mídia
tradicional tem tratado. Segundo ele, muitos Jornalistas estão sendo impedidos
de adentrar no território para falar com as pessoas atingidas, a razão disso é para
que a extensão do problema não seja mostrada. Não é difícil analisar o poder
dos financiamentos de campanha, onde a maioria dos partidos se beneficiaram.
Não bastasse tudo isso, agora o
presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha coloca em aceleração o
processo do permissivo Código de Mineração, o qual, sucintamente, autoriza a política
de concessão para a exploração de minério no país, priorizando a exploração de
áreas independentemente se existem populações indígenas nas áreas ou também, se
o território possui unidade de conservação.
Diante de tudo isso, quero dizer que
nós movimentos populares e pastorais sociais seguiremos em luta, na marcha pela
vida. Nesta imagem histórica que trago, e que representa mais de 515 anos de
luta pelo território, finalizo esta edição com a fala do indígena Kaingang,
Adroaldo Fidelis: “Se a terra é nossa mãe, a terra não se vende, não se aluga,
não se troca”, assim também nossos rios, nossas riquezas, nossas vidas.
Até
a próxima.
Foto Legenda: Imagem histórica que representa a luta dos
povos pela terra
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O lugar de paz...
“Eu
gosto de ir ao cemitério. É um lugar de muita paz”. Fiquei analisando o dizer
que minha mãe exclamou neste fim de semana que passou. Estávamos eu e ela. Ao
redor, alguns túmulos mais avantajados de flores, outros nem tanto e uma boa
parte sem identificação. Na ocasião, coloquei a mão sobre uma das gavetas, onde
minha avó materna está enterrada e pedi proteção.
Na verdade, sempre resguardo este mesmo pedido
quando acordo. Minha avó foi uma mulher muito sofrida. Violentada por meu avô,
um homem que não aceitava que as filhas se relacionassem com negros ou com quem
fosse católico. Descendente de alemães, meu avô sempre carregou uma postura
machista, além de ter sido racista e impaciente. Não o conheci em vida, tinha
pouco mais de um ano de idade quando ele se largou deste mundo e sabe lá, em
que dinâmica se encontra, ou, talvez nunca tenha se encontrado em lugar nenhum.
Já minha avó, que também não
conheci, tenho memória do que minha mãe nos conta sobre ela, que vez ou outra,
se mostra em sonho para fazer revelações. Sei que para alguns posso estar
flertando mas certas coisas são inexplicáveis a ciência. De descendência Alemã,
minha avó bem como todas as mulheres da família, sempre sofreram muito à custa
de um machismo impiedoso. Minha mãe nem mesmo frequentou a escola porque a
professora era de outra religião e meu avô não aceitava. Aprendeu a ler e a
escrever por força de vontade, ouvindo um programa na rádio que continha o A,
B, C. Depois disso passou a decifrar palavras e frases até conseguir se
defender.
Quando olhei para os olhos de minha
mãe, naquele cenário em que eu e ela nos encontrávamos, fiquei em silêncio para
observá-la. Também és tão sofrida e ao mesmo tempo, cheia de esperança. Me
ensina tanto e me faz pensar nas coisas. Não levamos flores para minha avó mas
também em vida, minha mãe nunca a deixou só, sempre a defendeu mesmo nas
madrugadas que meu avô retornava bêbado em casa e sabe lá Deus quantas vezes ela
sofreu violência. Sem contar que o número de filhos, que eram 12, não nasceram
todos desejados e planejados, mas fruto de muita violência que nem mesmo eles\as
pararam para analisar.
O lugar de paz... Mesmo que para mim
o lugar de paz seja outro espaço, mais movimentado, mais cheio de gente, de
bandeiras, de luta, para minha mãe aquele lugar tem significado maior.
Resguarda lembranças de um passado muito turbulento, de cenas que peregrinam na
cabeça todas as noites antes de dormir. É neste lugar que ela vê minha avó
descansando das atrocidades que a ela foram cometidas durante toda a vida, pois
mesmo estando muito doente, não era respeitada por meu avô e por alguns dos
filhos que sempre tiraram proveito do pouco que tinha.
Bem,
ao seguir analisando, e sem querer desmerecer os que movimentam o comércio das
flores neste mês de novembro, devo seguir vivendo este grande exemplo de minha
mãe, olhando nos seus olhos, observando seu silêncio e respeitando a sua
postura. O lugar de paz de cada um deve ser encontrado. Eu me senti inquieta
neste feriado ao sentar-me para ver um programa de TV, pois meu lugar de paz
estava em outra direção...Caminhavam pessoas, falavam as palavras, os dedos
mexiam rapidamente.
Creio
ser necessário que o lugar de paz deva ser devolvido a cada um\a. O lugar de
paz é aquele onde não há sofrimento, mas existe partilha, não há dor, e
prevalece a diversidade de cada povo. Por isso seguimos lutando por esse
espaço, por essa paz que nos possibilite construir um mundo diferente. Também
para que o lugar de paz não se resuma em pó, em silêncio contínuo após tanto
sofrimento. Queremos paz em vida. Nós, povos da terra, indígenas, caboclos,
brancos, pardos, negros e tantos\as outros\as que se formam nesse processo de
mestiçagem.
Até
a próxima.
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Olhos abertos! O Capitalismo nunca nos defenderá.
Passei
a semana procurando elementos para vestir a Palavra Nua pois afinal, muitas
coisas têm acontecido e permanecem remotas dos meios de comunicação. Enquanto a
luta contra a Pec 215 continua fortemente, com mobilizações e manifestos nas
ruas e nas redes, o assunto passa ‘despercebido’ pelas cidades. Em um dos
grupos on line que participo e que está diretamente relacionado a um canal de
divulgação de informações sobre acidentes, um inspetor relatou a manifestação
que estaria acontecendo em um dos quilômetros que liga Santa Catarina ao Rio
Grande do Sul, onde indígenas estariam ocupando a estrada levantando cartazes
contra a PEC do genocídio. Em segundos, um colega Jornalista respondeu: “-
Sério isso? O que querem agora? Tá faltando terras?”. Mal sabia o que era a
PEC, mas logo deixou estampado seu desinteresse. A gente cansa de falar que o Jornalismo
tem comprometimento com a vida, imagine nesse caso, se não tivesse. Mas esta é
outra discussão, tem a ver com a libertação da comunicação.
Enquanto isso, e que não é pouco, o
assunto que despertou discussões, agressões, enfrentamentos, conflitos nas
redes sociais foi a redação do Enem com o tema relacionado “A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Tema importante, merece
destaque, precisa de reflexão. Autores que despertam nossas utopias sendo
citados na prova, fazendo eclodir sentimentos, revoltas de alguns também, mas
estavam ali, aparecendo naquele cenário, naquela prova feita por mais de oito
milhões de estudantes.
Muitos aplausos para uma prova
elitizada. Em meio às observações,
encontrei um texto que me fez pensar bastante e vale a partilha já que sabemos
que o Enem é uma prova elitizada e mesmo que tenha trazido nesta edição o que
estão chamando de “Agradinho para a esquerda”, continua excluindo muita gente
como a gente, que foi aprender quem é Paulo Freire, Florestan Fernandes, Sergio
Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Celso Furtado, Milton Santos, e
tantos\as outros\as, nas formações tidas com as pastorais e movimentos sociais,
isso depois de ter cursado a faculdade inclusive.
Existe uma grande distinção entre
escola de rico e escola de pobre, e embora o esforço seja grande de quem não
possui o favorecimento econômico para sustentar a educação, outros fatores
interferem nesse processo. Essa ‘lei’ da meritocracia defendida por grande
parte da sociedade é ridícula. Barriga vazia não deixa a cabeça pensar e isso é
só o começo. Quem não tem comida, pena no processo educativo e pena mais ainda
para conseguir uma vaga na faculdade, isso quando consegue compreender que
estudar é importante para não ser cooptado. Mediante isso, creio que a crítica
inclusive a esquerda brasileira é válida no sentido de avaliarmos com cautela
as intenções desta prova do Enem. Não nos cabe apontar uma teoria da
conspiração, mas é importante perguntar há quanto tempo este assunto tem sido
pauta dos movimentos sociais?
O
machismo impregnado secularmente em nossas vidas só é debatido quando uma prova
elitizada o traz como tema? E depois disso? E a ligação prática com a
realidade? Será que depois dessa prova vamos continuar rindo das piadas
machistas e negando-se a enxergar a violência que as mulheres sofrem em casa
todos os dias quando precisam manter a casa em ordem, quando precisam estar
preparadas para fazer sexo quando o marido chegar? Quando vamos discutir a
relação de gênero na sua raiz? Quando vamos falar nas salas das universidades que
homens e mulheres precisam viver equânimes de direitos, precisam ser
respeitados e ter suas escolhas entendidas?
São
apontamentos que estão aí para serem refletidos. Não nos basta uma redação,
somos a inquietude. O sistema capitalista tenta corromper utilizando as nossas
próprias bandeiras por isso é importante ficarmos atentos. Comemorar? Até certo
ponto. Aplaudir, jamais. Esse sistema
não nos representa, ele nunca estará ao nosso favor. Olhos abertos.
Até
a próxima.
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Semana de luta, estudo, organização!
Nesta semana, aconteceu em São
Paulo, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, o Primeiro Congresso
Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), onde nós da Pastoral da
Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR),
participamos. Delegações internacionais e pessoas vindas de diferentes estados
do pais onde o movimento possui base organizada também marcaram presença.
A importância em participar de um
espaço político e de discussão como este que iniciou ainda no dia 12 e está
encerrando hoje, dia 16, está relacionada a todo um processo de luta coletiva
que se dá não apenas dentro do Movimento dos Pequenos Agricultores, mas com um
elo estabelecido junto as demais organizações do país e fora dele também. O
tema, “Plano Camponês, Aliança Camponesa e Operária por Soberania Alimentar”,
sugere e consolida uma forte aliança para se avançar na discussão e luta
concreta por soberania, pela produção que foge de todo limite imposto pelas
transnacionais e empresas que implantam em sua marca a venda descontrolada de
veneno.
Em uma matéria encaminhada por meio
da equipe de comunicação do movimento, há um maior esclarecimento sobre a
relevância de concentrar diversas organizações em um só lugar, para enfim
discutir os rumos e as condições que serão necessárias para avançar no processo
de enfrentamento ao Capitalismo e tudo que nele fere a classe trabalhadora do
campo e da cidade. “O MPA compreende que o congresso nacional é a instância
máxima de uma organização. Ao longo da construção da trajetória política o
movimento realizou três Encontros Nacionais que funcionam na prática como
instância de construção da unidade e de momento decisório sobre os rumos do
movimento. Por isso escolhemos o berço da luta operária brasileira e a data do
dia 16 de outubro, dia internacional por Soberania Alimentar. Pois
compreendemos que a história reserva uma das maiores batalhas ao camponeses e
operários, a de construir com nossas próprias mãos a libertação da Classe
Camponesa e Operária da opressão do agronegócio, dos transgênicos, dos
agrotóxicos, da violência contra as mulheres, da criminalização e de tantas
outras violências que enfrentamos no nosso dia a dia”.
Divulgado pelo portal Desacato,
ainda na última semana, onde constam informações sobre a ocupação da
transnacional DuPont Pioneer, o conteúdo traz presente ainda que o “Brasil é
considerado o campeão de uso de agrotóxicos há sete anos. Alguns agrotóxicos já
foram proibidos em vários países, mas ainda são comercializados no país, como o
glifosato, cujo uso nas lavouras é de quase 70%. Em 2015, o glifosato foi
classificado pelo IARC (Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer) como
possível causador de câncer”.
Quando as pessoas nos perguntam
ainda o porquê fazer luta contra as transnacionais, porque denunciar o sistema
que oferece conforto, a gente incansavelmente repete: Porque a gente quer que
todo mundo tenha conforto, que a alimentação que chega à mesa dos trabalhadores
e trabalhadoras não seja uma concentração de veneno que a curto e a longo prazo
tem matado pessoas de todo o mundo. Queremos gerações pensantes, alimentadas
com a semente da terra boa. Queremos especialmente viver, com saúde em um
espaço onde a diversidade seja respeitada. É querer muito? Para o Capitalismo
sim. Neste sistema não há espaço para todo mundo viver bem, apenas para a
minoria que enriquece com a nossa força de trabalho e nos mata com seus
alimentos que cheiram o verde dos pacotes historicamente impostos a nós. Que a
luta continue, que as denúncias, ocupações sejam feitas. O território pertence
a quem trabalha e não a quem manda.
Até
a próxima.
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A terra e o Jornalismo da
Pachamama
Cuidar da terra. Defender a vida. Será tão difícil? O ser humano
acostumou-se a comer tudo que dela sai, mas não pensou em cuidar como os povos
originários o faziam. Nesta semana, lendo algumas notícias, me deparei com a
ocupação feita na sede de DuPont Pioneer, no município de Catalão (GO).
Camponeses e camponesas movidos/as pela concepção de dignidade, soberania
alimentar, espalharam-se pelo local, denunciaram a ação das transnacionais,
questionaram o uso continuo, agressivo e avassalador dos pacotes verdes e
levantaram faixas em nome da produção de sementes crioulas.
A mesma notícia, circulou por diversos canais. Palavras de acusação,
de repúdio aos que se levantaram e foram denunciar o veneno. Notícias que
brotam de um jornalismo sem consciência de classe e que se forja aos moldes dos
monopólios e esbanja desgraça, preconceito a diversidade, que é explorado mas
que explora com suas palavras que sangram.
Falar da terra para os comunicadores das marginais vai muito além do
que foi constituído a partir da colonização europeia. Falar da terra envolve
pensar na poeira que se levanta e remete ao passado ‘negro’, escravo. Faz
voltar aos indígenas jogados em valas, como os ninguéns em busca do nada. ‘Do
nada’ interessante ao mercado forjado pelos rumos da sociedade também
transformada pelas forças do capital. Estar na terra, pisar, sentir o chão de
onde brota nossos alimentos segue a linha imaterial das coisas, transcende o
pensamento. “Com o passar dos séculos, muito pouco mudou. Os latifundiários só
não são mais portugueses. Têm a cara do Brasil mestiço e muitos até falam
inglês. E, como naqueles tempos idos, hoje também a resistência. Quem trabalha
na terra e dela tira seus frutos quer a sua posse. Por direito. Terra é para
agricultor, para gerar comida e não para especulação. Terra não é mercadoria. É
vida. Gaia. Pachamama, mãe”. –Elaine Tavares dizia em seu livro intitulado:
“Porque é preciso romper as cercas”.
No livro, ela faz uma recordação da cobertura Jornalística da
ocupação da Fazenda Annoni, na estrada que liga Passo Fundo a Ronda Alta no Rio
Grande do Sul. Ao reler esta obra, me faço pensar na fundamental importância do
Jornalismo de estrada, este comprometido com a causa das gentes, denunciador e
anunciador de esperança, que se agarra nas cercas e percebe, sem deixar passar,
as vozes que precisam ser ouvidas. Mas e a terra? O que tem de similar ao
Jornalismo de estrada? A história contada sobre o olhar para a terra e quem
nela produz sementes de vida não é qualquer olhar. Ele tem classe social,
assume postura.
Ao assumir o lado da classe trabalhadora, as palavras também
penduram-se no passado para falar do presente e o mais importante, não anda só,
como a própria Elaine nos ensinou ao falar de: “Jornalismo Libertador, este que
nasce no Sendero da Filosofia de Libertação. Uma filosofia que caminha com o
outro, distinto, e que vê o mundo com os olhos do amor e da beleza, Jornalismo
companheiro, que caminha junto, que come o mesmo pão, que se enlameia no mundo
real. Novo Jornalismo, jornalismo novo, compromisso, libertação. Momento de
tomar partido e conhecer a beleza. Morangos no abismo, como em Rubem Alves”.
Nos enche os olhos de esperança. Terras sendo ocupadas, povo se
organizando, organizações que passo a passo tem avançado mesmo enfrentando as
inúmeras problemáticas. Cada diferente tem sua história que vai se unindo a
outras. Falar da terra e do Jornalismo enraizado na luta, são dois pontos
fundamentais para a transformação. A Comunicação voltada a base, no cerne do
povo, que tenta libertar sem sentir ‘dó’, ela perpassa câmeras, perpassa
estética, pois une-se aos povos e a partir deles, aponta novos capítulos, novas
imagens, esperança.
“Quê? Sou eu quem planta, sou eu quem trabalha...E lembrava de como
tinha entrado nesta briga: Foi através da igreja, né? A gente ia pros grupos de
reflexão. A gente lia então sobre o povo oprimido no Egito e a caminhada que
eles fizeram com Moisés em busca da terra prometida. É assim que a gente tá,
caminhando em busca da terra que é nossa. Eu ouvia e aprendia” -Elaine Tavares.
Ao caminhar de mãos dadas com minha mãe e meu pai, nas Santas Missões
Populares que se fazia há alguns anos, também passei a ouvir e aprender que a
terra é da gente, é do povo que trabalha e só tem direito a ela, quem dela
cuida, quem nela vive, quem faz brotar a semente que alimenta o corpo, mas
principalmente, que dá sustento ao pensar e o germinar de consciência. As
Santas Missões serviram de primeiro passo para a descoberta do desafio maior,
aquele que todos e todas precisam ainda fazer parte.
Até a próxima.
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A família é a constituição da diversidade!
Depois de
termos ocupado as ruas de São Miguel do Oeste no último sete de setembro, com
cartazes gritantes que expressavam repúdio ao país que mata gente, que a mídia
mente e nos consome, alguns colunistas ‘velhotes’ e recalcados expressaram
palavras agressivas a nossa ação. Certamente são os mesmos que nunca fazem
nada, já diz o ditado “Nada incomoda mais a quem não faz nada do que aquele\a
que tenta fazer alguma coisa”. Pois bem, nesta semana, retomo mais uma vez a
importância de termos ocupado o espaço que é nosso. A lei que torna o
preconceito institucional foi aprovada pela Comissão Especial e tem base no
Estatuto da Família (PL 6.583/13). Alicerçada na bancada evangélica, a lei
exclui casais homoafetivos, considerando “família”, apenas a união entre um
homem e uma mulher e seus subsequentes filhos\as.
Ainda cabe recurso no entanto, o assunto por si só já nos incomoda. Volto a dizer que a defesa a
diversidade está entre as nossas pautas, das pastorais e movimentos sociais,
uma vez que, as organizações são constituídas pelos mais diferentes jeitos de
ser, de viver, de formar ‘família’. A lei nos fere enquanto seres humanos
mestiços. Pessoas como o pastor Marco Feliciano, Silas Malafaia que
violentamente tem agredido a diversidade em nome de um ‘Deus’ egocêntrico que não
nos representa. Pastores que não passam de celebridades de igreja e arrecadam
dinheiro com a imprensa tradicional que bem ou mal, segue reproduzindo o
discurso de ódio destes canalhas.
Considerei
muito interessante o texto escrito por Viegas Fernandes da Costa ao se tratar
da lei e o comentário que faz com relação aos deputados: “O que estes deputados
estão dizendo é simplesmente que uma família constitui-se da união de um pênis
e uma vagina e os resultados fortuitos deste encontro”. Meio ‘pornográfico’
para os chamados ‘cristãos’ não é mesmo. Falo isso, pois a prática para
muitos\as tradicionais é considerada pecado. Contradições e mais contradições,
“o ato pecaminoso que gera a família”, vai entender.
Viegas
prossegue: “Ao reduzirem a família ao encontro de um pênis e uma vagina, estes
deputados da autodenominada bancada evangélica estabelecem um parâmetro
pornográfico para justificar uma legislação. Porque pornografia é justamente
definir por princípio e foco os órgãos sexuais. Se considerarmos, também, que
esta mesma bancada rejeitou a discussão de gênero e sua abordagem na educação,
ressalta-se a perspectiva de que homem e mulher recolhem-se ao princípio pênis
e vagina”.
Outra
análise pertinente percebi em uma das redes sociais. As pessoas falam tanto em
Deus, mas desconhecem quem ele é. Meu companheiro Pedro falava nesta semana que
a homoafetividade é mais antiga que a crença em Deus, o Deus dos cristãos
herdado dos Hebreus. E mais, pesquisando aqui e ali, a antropologia mostra que
historicamente, em algumas tribos, os homens só poderiam manter relação sexual
com as mulheres após terem tido a primeira relação com outros homens. Outro
elemento fascinante é que na Grécia Antiga, também se considerava a relação
entre dois homens como pura e verdadeira, muitas delas expressavam o amor que
não se traduzia em casais heteros.
E por fim,
muito interessante também, acompanhei a postagem de uma notícia a qual mostra a
história de dois pastores homoafetivos que fundaram a própria igreja e
disseram: “A bíblia não condena a homossexualidade, mas, sim, os rituais
pagãos. Algumas traduções do livro sagrado dos cristãos foram feitas de forma
‘maliciosa’ como no texto de 1 Coríntios, capítulo 6, versículo 9. Versões
preconceituosas traduziram o trecho como ‘Efeminados e sodomitas não herdarão o
Reino dos Céus’, porém, o escrito original do grego diz ‘Depravados e pessoas
de costumes infames não herdarão o Reino dos Céus’”.
Nesse
contexto, onde o próprio Papa Francisco foi acusado pelos pastores defensores
de um Deus individual como sendo um ‘covarde’ por não se opor ao que chamam de
‘pecado’, vale ressaltar que caso a ‘família’ seja essa mesma constituída na
união de “pênis e vagina”, então, somamos a maioria de filhos\as que não se
encaixam neste conceito tradicional. Sendo a maioria, que vença a democracia, a
diversidade, a vida, o amor, o carinho, a união de pessoas que querem viver e
sonhar juntas e que a família não seja reduzida ao órgão sexual de cada um\a.
Até a próxima.
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Os esquecidos ‘da Farroupilha’
A cidade está ‘enfeitada’. Desse jeito, fantasiada de gaúcho. O
que por um lado parece divertido, creio que também deveria ser analisado com um
olhar crítico para os acontecimentos deste setembro. Costumo dizer que lá em
casa não celebram o dia do Gaúcho neste endeusamento social que tanto se faz.
Minha mãe não veste "bombachita" da cultura industrial massificada,
nem meus irmãos ouvem as machistas canções dos tal. Meu companheiro também não
reproduz esse pesadelo enfeitado com a dor dos peões\pobres…e a família toda se
volta a pensar no sofrimento que sempre foi servir aos fazendeiros, aos
senhores\as que lhes sugou por muito tempo a força de trabalho. Por isso, lá em
casa é assim: Recordam-se as vozes esquecidas, os poemas calados na boca dos
"menos” …recorda-se a vida e a necessidade de mudança.
Minha família e a de tantos\as herdou do endeusamento gaúcho,
apenas o chicote e uma história de traição. As ‘belas’ passeatas feitas com
cavalos enfeitados e bandeiras imperiais, disseminam na grande maioria das
vezes, por exemplo, o modo machista de se tratar as mulheres, como “fêmeas
reprodutoras” e incapazes de falar por si ou de construir equanimidade. Bonito
seria se a mulher não precisasse passar a bombacha do companheiro como se fosse
sua obrigação. Se fosse uma construção coletiva de ajuda mútua.
Mas, porque estamos falando disso? De endeusamento gaúcho,
traição, machismo, quando para muitos\as, o mês de setembro, onde prevalece a
comemoração da Semana Farroupilha é um momento de puro festejo? Partilho o que
o colunista Juremir Machado citou em um dos seus escritos nos últimos dias.
Segundo ele, “Até quando deixaremos de falar que milhões de homens sempre
souberam da infâmia da escravidão? Os escravos. Até quando minimizaremos o fato
de que a Farroupilha, com seu lema de “liberdade, igualdade e humanidade”,
vendeu negros para se financiar? Até quando deixaremos de enfatizar que os
farrapos prometiam liberdade aos negros dos adversários, mas não libertaram os
seus? Até quando daremos pouca importância ao fato de que a Constituição
farroupilha não previa a libertação dos escravos? Até quando deixaremos de
contar em todas as escolas que Bento Gonçalves ao morrer, apenas dois anos
depois do fim da guerra civil, deixou mais de 50 escravos aos seus herdeiros?
Até quando?
Ao fazer críticas ferrenhas aos chamados ‘valores da época’, ele
prossegue: “Até quando adularemos os admiradores de um passado que não existiu
somente porque as pessoas precisam de mitos e de razões para passar o tempo,
reunir-se e vibrar em comum? Até quando os folcloristas sufocarão os
historiadores? Até quando o mito falará mais alto do que a História? Até quando
não se dirá nos jornais que os farroupilhas foram indenizados pelo Império com
verbas secretas? Que brigaram pelo dinheiro? Que houve muita corrupção? Que
Bento Gonçalves e Neto não eram republicanos quando começaram a rebelião? Que
houve degola, sequestros, apropriação de bens alheios, execuções sumárias,
saques, desvio de dinheiro, estupros, divisões internas por causa de tudo isso
e processos judiciais?”.
Ao partilhar este pensamento de Juremir, a Palavra Nua também
consolida sua indignação com a supervalorização de uma chamada ‘revolução’ que
dizimou muita gente igual a nós, trabalhadores trabalhadoras,
escravos\escravas. E ao falar do Gaúcho, dissemina o que o Grupo Desgarrados de
São Miguel do Oeste acredita ser a cultura Gaúcha de fato: “Nós precisamos
combater esta cultura do gaúcho difundida principalmente pelos CTGs, que
dissemina uma ideia de um folclore de peões e patrões, de mulheres subjugadas e
sem participação decisória, de um local geográfico em que nasceu o gaúcho e
dele se alimenta. O folclore gaúcho envolve elementos que vieram dos índios,
dos negros e caboclos, são heranças das mais diversas e que não podem ser
apropriadas por um grupo. A ideia de uma única expressão cultural não responde
à diversidade da cultura gaúcha”.
Até a
próxima.
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Chão Contestado e a morte cabocla
Os ‘comunistas’ voltaram para as ruas
neste final de semana. Sim. Formaram um cenário de mais de 10 mil pessoas
caminhando pelas terras de Timbó Grande\SC, durante a 23ª edição da Romaria da
Terra e da Água. Grande parte dos romeiros\as são conhecidos\as como:
Vagabundos\as, baderneiros\as, rebeldes e sim, as putas não poderiam faltar é
claro. Essa multidão de gente carregava dizeres em memória a esta frase:
“Redutos de resistência, esperança e encantamento da vida”.
Dei destaque para o “encantamento”, e
até pensei que seria interessante disseminar o seu significado em nosso
município, onde, como na maioria da região, o ideal de “encantamento” está
ligado aos heróis estrangeiros.
Timbó grande, onde o povo de São Miguel
do Oeste fez contato no domingo, dia 13, concentrou um dos maiores massacres da
luta pela terra, que foi o Genocídio do Contestado. Sentir o chão de sangue,
olhar para o rio que guarda na sua profundidade a memória de tantos corpos
jogados como se fossem nada nos faz acreditar ainda mais na necessidade de
movimentar. O espaço marcado como sendo o último Reduto Santo do Contestado
também traz em seu contexto a história dos inúmeros caboclos e caboclas mortos
a fogo de canhão, outros tantos, incendiados dentro das igrejas e casas, sem
piedade alguma.
A história do Contestado, a qual citei
algumas vezes por aqui, segue tão viva em nós que é impossível não replicá-la.
Como podem nossas escolas serem tão vazias desse processo? Como podem nossos
meios de comunicação não falarem sobre isso, quando ainda vivem em nossos
arredores os caboclos\as, que passam fome, que tem sede de liberdade, que
pensam na sua dignidade corrompida pelo poder do ‘desenvolvimento’?
Santa Catarina, local que cresceu, como
tantos outros lugares, a base da morte indígena e cabocla, hoje ainda é
predominantemente comandada pelos empresários e capachos de guerra. Nosso chão
“esconde” gritos... Quando sentimos Taquaruçu, primeiro reduto, também ouvimos
esses gritos, que não se calam… A sensibilidade nos faz encontrá-los a cada
passo na terra violentada.
Quando paramos para pensar o que foi e
o que o Contestado nos representa, brota também a esperança de que esse sistema
que oprime tanto a gente não será duradouro. A esperança também nos surge
quando ouvimos de líderes inseridos dentro de um contexto conservador da
própria igreja, falar da necessidade de nos posicionarmos na contramão da
história e reforçarmos os trabalhos de base e a formação de consciência do
povo. Essa boa nova nos provoca e marca sim posição em São Miguel do Oeste
assim como, tem marcado posicionamento político libertador em outros espaços.
Maria Rosa, Chica Pelega, São João
Maria, mártires do Contestado, seguem vivos também nas falas dos jovens que
participaram da romaria. Enquanto uma grande parcela da igreja condena a
juventude por não frequentar o culto todos os domingos do mês, momentos como a
romaria nos fazem pensar no papel político que a juventude possui, de ser
igreja onde nem mesmo os ditos mais “fiéis” conseguem ser.
Certamente Jesus Cristo não reuniu o
povo rezando individualmente. Ele precisou pisar no chão dos condenados para
então trabalhar a sua consciência num pensamento de libertação. É para isso que
nos desafiamos e quando citamos Chica Pelega, Maria Rosa, estamos falando de
duas jovens que agiram em defesa de suas gentes.
Embrenhados no mato, lutando com facão
de pau contra canhões e exército preparado para matar, esses caboclos\as são
resistência para nós. Pensar no encantamento do Contestado é também refletir
sobre qual fé estamos vivenciando hoje. Se “entre nós está e não o conhecemos,
entre nós está e nós o desprezamos”, terço nenhum salvará o homem das
imundícies que pratica, desde a condenação dos povos a negação da sua história.
Portanto, seguimos em marcha,
denunciando o projeto de morte. A Palavra Nua de hoje, segue vestindo-se de
esperança pelo que viu e sentiu neste último final de semana.
Até breve!
Legenda
Foto: Romeiros\as deram nome aos que provocaram a morte cabocla
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Um viva ao povo 'cara pintada'.... a diversidade fotografada....
“O que incomoda somos nós, povo
organizado”
Comungar é
tornar-se um perigo...Viemos para incomodar...Aos poucos, as ruas foram se
enchendo. O colorido foi tomando espaço dentro de um desfile tradicional e
conservador. As ruas de São Miguel do Oeste foram palco para uns e resistência
para outros. Mesmo sabendo que não somos bem vindos nesta marcha pelo
patriotismo e amor ao Brasil dos economicamente fortes e dos lascados
alienados, ainda assim, resistimos por entender que a sociedade algum dia vai
precisar pensar sobre o porquê lutamos ou talvez, nem entenda. Não somos patriotas,
a pobreza, a fome, a discriminação não tem pátria. Os estudantes que não se
reconhecem dentro desse sistema de ‘desfile’ também não tem pátria. Pátria
acham que tem, os educadores que garantem o ponto na média para quem fizer a
marcha como bem manda o regimento, o que é uma vergonha. Paulo Freire se remexe
ao pensar nisso. Chega se transferir ao pensar que nossos educadores estão
achando ‘cedo’ discutir política, falar sobre os problemas sociais e a
necessidade de sermos protagonistas, de lutarmos, de falarmos em nosso nome, em
resposta a um coletivo.
Fico pensando no
encanto das crianças que tem sido quebrado. Mais tarde, ou logo cedo não
beberão mais água potável, não vão respirar o mesmo ar que respiram hoje e que
por sinal está muito contaminado. Fico pensando: Que pena! Nossas crianças
perderão o encantamento de viverem no futuro, a complexa adolescência, sem
poder andar pelas ruas, de mãos dadas, não vão conseguir namorar aos ares das
praças. Vou sentir...quando o encantamento for quebrado, quando as armas que
nos rodeiam forem para além de apontadas, usadas contra a nossa condição de
liberdade. Esse é o encantamento das crianças, é o encantamento que move a
vida. Ser livre é o encantamento, e não essas princesas e heróis que nos querem
fazer amar. Chega ser fatídico, ridículo fantasiar as escolas fazendo analogia
a Ditadura Militar. Mas fazer o que, quem direciona isso são os cargos
comissionados dentro de um sistema que não representa o povo.
Mas, pensando bem,
este sete de setembro deixa claro o projeto que se quer manter. Enquanto falam
que as organizações, movimentos e pastorais sociais ‘criminalizam quem produz’,
‘quem trabalha’ e nos culpam por carregarmos a ideologia da vida que para
alguns é chamada de Comunismo, para outros Socialismo, para outros mais, Reino
de Deus, a gente diz: Trabalhadores somos nós. Nós é quem produzimos, nós
camponeses\as somos quem alimentamos as cidades, nós operários\as é quem
movemos toda essa estrutura de produção. Quem fala de cima apenas ordena,
reprime.
Mesmo com essa
carga de incompreensão e de afronta aos nossos direitos, as ruas foram tomadas
pelo colorido. Os rostos pintados em nome da diversidade surpreenderam quem não
acompanha o processo. Estava tão linda a marcha da diversidade do Grito dos
Excluídos\as que até ‘pessoas’ nos fotografaram, rosto a rosto. Que
beleza…Fotografaram o encantamento da vida. Só gostaríamos agora de acompanhar
a publicação destas fotos tão belas e cheias de sonhos que brotam das tribos
das periferias, dos interiores do Oeste, Extremo-oeste Catarinense, de outros
estados e de outros países que nos acompanhavam em marcha pela vida dos povos.
Além das belas
fotos feitas, e que pena, talvez não foram direcionadas as nossas faixas pela
Universidade Federal Fronteira Sul, contra a criminalização das juventudes,
pela Agroecologia, em celebração ao Primeiro Acampamento das Juventudes do
Campo da Cidade, em defesa das vadias e vagabundas, das putas da sociedade, em
defesa dos povos originários dessas terras, creio que a sociedade em si não
deva ter prestado tanta atenção em duas faixas também muito importantes:
Repúdio a mídia golpista e contra o golpe no Brasil. O processo alienatório
está intrínseco e muitas vezes ocasiona a cegueira, adoece as pessoas que
preferem não mais pensar, mas deixar que a mídia comande a vida por elas e é
esse o grande problema. O cenário de insegurança nos deixa em alerta e por isso
levantamos nossas bandeiras para dizer uma vez mais NÃO! Não Haverá golpe no
Brasil. Sabemos muito bem quem é o inimigo do povo e ele chama-se Capitalismo.
Enquanto retornamos de uma marcha movida pelo encantamento de viver a liberdade
de poder amar uma sociedade diferente, seguimos estudando, nos juntando e em
alerta. Aos poucos vamos nos reunindo para a vitória sabendo que o que
realmente incomoda a sociedade somos nós, povo organizado, críticos em
construção.
Adelante.
Até a próxima.
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Excluídos\as gritam: Alto lá, mídia golpista!
Não
basta lamúria, é preciso mais ação. Por muito tempo somos dominados e temos
nossos dias programados pelas mídias. Historicamente temos sido bombardeados
com informações distorcidas da realidade. Canais televisivos, emissoras de
rádio, revistas e jornais insistentemente programam o que vamos assistir,
ouvir, ler, comer, vestir e nos dizem a maneira como devemos viver. O celular
nas mãos de crianças, embora pareça divertido e interessante, também faz parte
de uma estratégia de negócios poderosíssima. Uma grande indústria se move
comercializando nossas culturas, interferindo nas decisões coletivas da
humanidade, e nós, o que temos feito?
Assistir a tudo isso sem
movimentar-se é um grande erro. Não falar de nossas lutas, ter medo de levantar
uma bandeira, de expor o rosto nas ruas é sim uma falha. Enquanto a imprensa
tradicional divulga qualquer que seja a ação realizada em benefício de seus
sócios, o que nós fizemos? Nos escondemos? Precisamos falar de nós, contar para
os outros\as que nós existimos, que nos movimentamos. Por isso que o Grito dos
Excluídos e Excluídas deste ano traz como lema: “Que país é esse que mata
gente, que a mídia mente e nos consome”, para que o povo desperte. Pensar dói
muito, exige tempo, paciência, mas é preciso. Já vivemos muito tempo sobre a
tortura da imprensa, é hora de darmos um basta.
A proposta de uma comunicação
horizontal permeia o campo da comunicação comunitária, voltada à elaboração e
execução de um Jornalismo alternativo, que leva em consideração a movimentação
(espaço e pensamento) entre receptor e emissor. Ao contrário do que descreveu
Aristóteles na “Arte da Retórica”, onde a comunicação é vista como estratégia
para persuadir com o poder da fala, a escola Latino Americana surge para
contrapor-se as teorias Norte Americanas, isto é, pensa a comunicação como
ferramenta de transformação social que valoriza as vozes pouco ouvidas na
sociedade atual ou historicamente excluídas do processo de comunicação.
Dentro do contexto de comunicação
horizontal, entende-se que há um emissor e um receptor que trocam de lugar
simultaneamente, interagindo, construindo de diferentes formas e com diferentes
linguagens a comunicação. Foi assim também quando a comunicação vista pelo viés
das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), ganhou uma nova vida dentro das
comunidades, é assim também, que pensa-se na perspectiva da comunicação
horizontal, uma construção comunitária e alternativa que valoriza as
especificidades humanas e as relações existentes entre comunicadores e
receptores.
Os meios de comunicação de massa se
mostram na história trabalhando um contexto de comunicação longe da realidade
das comunidades. A perspectiva de inserção de uma notícia que valorize a vida
humana, o ser humano e as relações entre as “gentes” é pouca ou inexistente.
Uma comunicação diferenciada fundamenta-se na construção de novas relações
entre as pessoas e consequentemente traz de volta um processo de identificação
cultural negado aos seres humanos historicamente, principalmente aos povos
excluídos do Brasil, ao negro, ao ameríndio, ao caboclo.
Por isso, questiono: Até quando
vamos discutir e defender que a comunicação, que a imprensa é o quarto poder?
Até quando vamos acreditar que somos livres e que podemos expressar o que
sentimos? E os efeitos? E os canais? E o sistema? A comunicação horizontal,
está ligada ao diálogo entre as massas empobrecidas, que surgiram como massa de
manobra muito antes da ditadura, e continuam vivas há mais de 400 anos dentro
de um Brasil escravo. Porém, ela não poderá ser construída dentro de uma lógica
mercantilista, onde as relações acontecem com a venda da força de trabalho e o
lucro de um patrão, onde a comunicação se mantém como ferramenta que alimenta
uns e explora outros.
Quando pensamos na comunicação
horizontal, então vemos uma perspectiva coletiva de transformar a realidade com
uma comunicação que nos permita entrar no seu contexto e construir novas
formas, sem obedecer padrões americanos que nem mesmo conhecemos ou sabemos o
real significado. Precisamos unificar as bandeiras para que se efetive o sonho
de uma comunicação em movimento, enraizada nas vozes gritantes das gentes do
Brasil e do Mundo que querem falar, ouvir e construir novas linguagens. Ao
sairmos pelas ruas neste sete de setembro, contrariando a “pátria nossa”,
queremos também anunciar que nós, povo organizado, temos voz e podemos sim
criar outras formas de comunicar, possibilitando o diálogo das ‘diferenças’.
Anunciamos também a nossa defesa a radicalização desse sistema midiático que
tanto fere a classe trabalhadora.
Por fim, ao contrariar a pátria que
nos querem fazer amar, levantamos nosso punho para dizer o que o guerreiro Sepé
Tiaraju repetia por diversas vezes: “Alto lá! Esta terra tem dono”, e não são esses
a quem a sociedade tanto idolatra, a quem a mídia conclama. “Uni-vos”!
Até
breve.
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Periferia: onde os ‘esquecidos’ aguardam uma visita
É muito dolorido chegar na casa de
alguém e ser surpreendida com a pergunta: “Será que porque a gente é tão pobre
é que não tem valor algum para os outros?”. Entre um gole e outro de chimarrão,
que descia rasgando a garganta pela inquietude do momento, considerei
pertinente falar nesta semana, sobre o porquê as periferias são condenadas,
lascadas e como os moradores são jogados e vistos com preconceito pela cidade
‘do bem’.
Sentada ali meio por fora da Vila,
perguntei ao morador quem eram os grandes mandatários das coisas ‘ruins’ pelas
quais a periferia é condenada. De cara ele me disse: “Traficante algum mora na
periferia, traficante mora em prédio de luxo, manda entregar droga, alicia
menores. Quem mora na periferia se envolve nisso depois de ter todas as
condições de trabalho e dignidade negadas no mercado tradicional que forma o
restante da cidade”.
É cômodo julgar, é satisfatório ver
a periferia pelos olhares estrangeiros e reproduzir, mas a exclusão real pela
qual os moradores das periferias sofrem, essa ninguém quer saber, não cabe
comentar. Recordo-me de uma “periferia rural” onde estive em Palmitos\SC,
fazendo uma reportagem sobre a situação de uma família que estava enfrentado um
problema muito sério com a abertura de uma fossa pela prefeitura em frente à
casa.
Na verdade, o morador já havia caído
no buraco e machucado a cabeça quando estive lá. Mesmo com a denúncia na
imprensa, foram longos os meses até que a prefeitura decidisse que cobrir
aquilo era algo importante de se fazer. Depois disso, estive mais uma vez em
outras duas comunidades periféricas, essas em São Miguel do Oeste\SC. Foram
diversas as vezes em que os moradores clamaram ajuda nestes locais. Pode ser
que, ao ler estes escritos, nossas excelências digam: “Esse povo não trabalha,
só quer receber. Esse povo vive de bolsa família”. Ainda bem que existe o bolsa
família, pois quando tudo nos é negado pela cor, pela nossa condição social,
essa renda é bem vinda para colocar o pão sobre a mesa.
Claro, que para nossos gestores
municipais, que planejam cruzeiros enquanto a mesa administrativa vai se
abarrotando de tarefas, que gastam nosso dinheiro em viagens à Brasília
(convenhamos, custo de vida para dois ou três dias é alto demais por lá),
resolver problema de fossa, ocasionado pela péssima infraestrutura do local,
não é tão interessante assim. E aí está mais uma questão, pior ainda é quando o
problema começou a ser gerado em outra administração e a atual não quer
resolver com precisão porque acredita ser mais interessante fazer isso próximo
das eleições, porque é nesse período que a comunidade ‘pobre’ pode ser útil.
Se a periferia existe é porque um
grupo está ganhando muito e a maioria está ficando sem nada. Se a periferia
existe é porque índio, caboclo, negro ‘serviram’ para construir prédios,
praças, palácios e depois de tudo muito bem feito, foram ‘libertos’ para
viverem nas condições mais desumanas possíveis. Algo muito errado acontece. Infraestrutura, água, luz, saneamento básico é
o mínimo que um município pode fazer pelos que vivem as margens, além de ser um
direito destas pessoas. É uma questão muito mais humana. Se querem uma cidade
boa para se viver, precisam dar condições para que a periferia também possa
viver, para que as pessoas que vivem na periferia possam trabalhar, se
alimentar, tenham água potável em casa. Colocar o pé na realidade dessas
famílias poder público, tomar um mate, almoçar uma vez que outra na casa ‘do
povo’, é uma dica interessante. Vale pensar.
Até
a próxima.
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Segurança ‘serve’ à quem?
O título remete a
interrogação que parte de uma parcela definitivamente ‘esquecida’ pelo estado,
pelas pessoas que vivem na sociedade civil ‘organizada’. Na Audiência Pública
realizada na noite de terça-feira, dia 04, na Câmara de Vereadores de São
Miguel do Oeste, a qual trouxe pautada a discussão sobre a Segurança Pública no
município e região, se fez clarividente como alguns segmentos consideram a
importância desta discussão.
Embora
os elogios entre autoridades pareça mais relevante do que o avanço no tema, há
elementos que devem ser considerados e é a partir destes que a Palavra Nua
desta edição se alicerça. Em primeiro momento vale ressaltar a necessidade de
abrirmos nossos olhos aos assistirmos televisão, de higienizarmos nossos
ouvidos ao receber as informações via rádio. Isso quer dizer que, estamos tão
habituados a engolir tudo o que verticalmente nos é empurrado que perdemos a
capacidade de questionar. A realização de uma Audiência Pública para discutir a
Segurança Pública de fato, é uma ação lisonjeável. Mas avançar nessa discussão
também depende da capacidade de interação e debate dos participantes.
Ouvi
clamores de uma juventude marginalizada, criminalizada pela sociedade, a mesma
sociedade que “engravida pelo ouvido”, termo este citado pela Jornalista Elaine
Tavares. Não é possível discutir a Segurança Pública sem base nas realidades
que compõe o município, a região. Não é possível parte da imprensa valorizar
fotos das autoridades e dizer que um ato como este aconteceu sem entrevistar as
partes envolvidas em todo o processo de construção de políticas públicas para o
espaço em discussão. Ao mesmo tempo em que há pouco interesse dos empresários
donos da imprensa em contar a história pelo viés da profundidade da notícia, há
os que recebem estas informações distorcidas e as têm como verdade
absoluta.
Mas
o que isso tem a ver com a discussão na Câmara? O que isso tem a ver com a
sociedade que engravida pelo ouvido? Quero dizer que essa gestação de falsas
informações levam a despreocupação de uma condição social prevalecente na
igualdade de direitos e na valorização das diferenças. Durante a audiência, um
senhor negou-se a sentar à frente do plenário porque não sentia-se bem próximo
aos denominados por ele como “Sem Terras”, quando temos uma sociedade repleta
de Sem Terras, sem direitos, sem valorização de suas culturas. Nesse sentido,
discutir a Segurança Pública é falar sobre tudo isso, é entender que uma
sociedade se constitui por meio das diferenças. O contrário disso, é uma
sociedade deplorável, condecorada na manifestação da glória, da competitividade
e da desconfiança.
Estas
três palavras recordo, foram citadas pelo Filósofo Thomas Hobbes, sujeito
que, embora me faça entrar em atrito com alguns pensamentos, também demostra
como o ser humano que compõe hoje o Congresso Nacional, que faz as leis, que as
verticaliza, pode, e faz atualmente, com que a gente viva a mercê de órgãos de
Segurança despreparados para atender casos de violência, a mercê também de uma
sociedade do terror onde quem deveria proteger oferta medo e mata se for
preciso aos que questionam e ‘incomodam’ o sistema vigente.
Discutir
a Segurança Pública vai além de qualquer aumento de fardas, ela é uma discussão
embasada na efetivação de políticas públicas, na denúncia ao tratamento
midiático conservador para com os povos e na clareza de que a democracia é um
movimento maior do que a sonoridade de belas palavras ditas em plenário.
Esperamos que a discussão sobre a Segurança Pública tenha continuidade.
Até a próxima.
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Cuidar da Casa Comum: Como estamos fazendo isso?
Nesta
semana, mais do que nunca senti a presença de Paulo Freire ao meu lado. Ele que
sempre nos ensinou que - “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz
e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua
prática”. Percebo então, que é preciso ter o coração aberto para construir
qualquer que seja a ação, de forma coletiva. Mas falar em coletividade tem sido
muito difícil nos últimos anos, isso porque, o projeto de sociedade construído
até aqui leva o ser humano a valorizar muito mais a materialidade do que
qualquer pessoa de seu meio.
Recordo-me
do que o companheiro Educador, José Maria Tardim disse ao referir-se a
necessidade de sermos ‘humanos’. Para ele, o espaço onde vivemos, a Casa Comum
dita pelo Papa Francisco, é constituída por duas dimensões, sendo uma material
e outra imaterial. A primeira delas constituída pela materialidade do mundo e
seus elementos, terra, água, plantas, animais, ser humano, e tudo aquilo que construímos
a partir do nosso trabalho. Já a imaterialidade seria constituída pelo pensamento,
reflexão, sentimento.
Nesse
sentido, a Casa Comum, o território, o espaço onde vivemos é caracterizado pelo
movimento destas duas dimensões sendo que, o desequilíbrio de uma levaria a
autodestruição de outra. Tardim me deixou preocupada quando disse que se ‘as
coisas continuarem assim’, salvar o planeta dependeria essencialmente da
extinção do homem na terra. Vejo muita coerência nesta fala afinal de contas,
como temos cuidado de nosso planeta, de nossas gentes, de nós?
Fala-se
tanto em campanhas contra o preconceito mas quando temos a imagem de um ser
humano amarrado em um poste, o que fazemos? Denunciamos? Ou preferimos seguir
postando fotos feitas em frente ao espelho nas redes sociais, falando das
prateleiras de livros que temos em casa, achando bonito ser um ser antissocial
e um pouco mais adiante, postamos algumas frases bonitas e dizeres plagiados. É
dessa forma que estamos pensando em mudar a nossa sociedade?
Ou
então seguimos a linha da meritocracia e condenamos os filhos\as dos
trabalhadores mais lascados pela sociedade e falamos que ‘todos possuem a mesma
oportunidade’ quando sabemos que o racismo tem classe social, quando sabemos
que o apadrinhamento é o provedor de oportunidades? Que tal olharmos para
dentro das prefeituras, estabelecimentos comerciais e tantos cargos públicos
por ai. Mérito? Nem sempre.
Um
pouco mais a fundo, podemos dizer que cuidamos do bem comum utilizando
‘momentos’, ‘situações’ para se autopromover? Nos intitulamos como
‘revolucionários’ momentâneos que resolvem ‘aparecer’ quando existe uma
situação muito boa para ser explorada? Mobilizar
a massa que todos os dias sofre uma lavagem cerebral pela imprensa local e
global conservadora não é muito difícil, fatigante é trabalhar a formação
política das pessoas, dos jovens, é fazer um trabalho contínuo de entendimento
para além de tudo que está escrito e que nos foi repassado na escola e na
universidade. Isso sim é verdadeiramente difícil. Fácil ainda, é seguir uma
página e se auto intitular como ‘revoltado on line’, é ser garoto\a propaganda
desta marca e se contradizer. “Sou contra o preconceito”, mas, desde que não
tenha marcha ‘colorida’ acontecendo. E por fim, muito fácil é ganhar dinheiro
com tudo isso, é se intitular apartidário, é falar mal da educação no Brasil
ganhando bolsa de R$ 2,500,00 por mês.
É.
Papa Francisco está certíssimo… As coisas não andam bem. Gosto quando ele diz:
“Eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente”, porque
ser ‘revolucionário da corrente que aprisiona os explorados\as, excluídos\as há
séculos, é ser cumplice do projeto de morte, do capitalismo. Vamos pensar. Até
a próxima.
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A mãe terra chora e seus filhos padecem, envenenados
Falar na terra como sinônimo de vida parece
mera utopia para os desiludidos ou cegos sistemáticos. Minha mãe, que nunca
pode frequentar uma escola na vida me disse outro dia: “Porque você não escreve
sobre a terra. Sobre como as pessoas têm cuidado dela e se alimentado com seus
frutos. As pessoas precisam saber que o veneno mata e que antigamente a gente
não vivia tão doente como vive hoje com esses alimentos do mercado”. Me veio à mente uma infinidade de
preocupações formuladas a partir de interrogações sobre o que tem acontecido realmente
com o campo, sim porque chamar de desenvolvimento um sistema que mata qualquer
forma de vida que possa existir na terra, entendam os conservadores, este é um
projeto de morte.
Carrego como exemplo, o cuidado que os povos
indígenas têm com a terra, embora os conflitos gerados pela posse dela tenham permanecido
no centro do relacionamento entre os vários povos e etnias que constituíram o
espaço que hoje denominamos Brasil. Importante destacar que as populações
autóctones, mesmo com várias diferenças culturais entre si, mantinham
semelhanças em relação a terra. A tinham como sinônimo de vida, mas, com a
chegada do europeu essa realidade mudou.
Alguns grupos indígenas existentes não
somente no território brasileiro, mas em toda a América, descobriram a
agricultura a cerca de 2500 a. C., constituindo assim o que chamamos de
Revolução Agrícola. Esse processo fez com que as relações dos componentes de
determinado grupo fossem se distinguindo das demais. Começaram a existir
pequenas diferenciações sociais e também, a divisão do trabalho por questão de
gênero.
O próprio pensador Darcy Ribeiro, em sua Obra:
“O Povo Brasileiro”, retrata como se deram os primeiros passos no processo
agrícola. “Na escala da evolução cultural, os povos Tupi davam os primeiros
passos da revolução agrícola, superando assim a condição paleolítica, tal como
ocorrera pela primeira vez, há 10 mil anos, com os povos do velho mundo. É de
se assinalar que eles faziam por um caminho próprio, juntamente com outros
povos da floresta tropical que haviam domesticado diversas plantas,
retirando-as da condição selvagem para a de mantimentos de seus roçados. Entre
elas, a mandioca, o que constituiu uma façanha extraordinária, por que tratava
de uma planta venenosa a qual eles deviam, não apenas cultivar, mas também
tratar adequadamente para extrair-lhe o ácido cianídrico, tornando-a
comestível”.
O cuidado sempre prevaleceu, até mesmo com as
plantas caracterizadas como ‘venenosas’. Mas essa forma de olhar para a vida e
de perceber a terra como mãe, até hoje é motivo para conflitos e discussões.
Mergulhando em algumas entrevistas feitas aqui e ali, percebo o quanto o mundo
têm deixado de cuidar da terra. O mercado Capitalista e que engloba inclusive
sindicatos que se dizem defensores de uma agricultura voltada ao campo, está
mais interessado em aumentar o número de sócios carregadores de sacos de adubo
e produção para um mercado que lhes trará de volta, um ciclo de doenças
ocasionadas pelo uso demasiado de agrotóxicos e outros produtos altamente
agressivos a saúde e vida do ser humano.
Sugiro ao leitor assistir ao Documentário de
Silvio Tendler, intitulado: “O veneno está na mesa”, onde infelizmente,
encontramos o paradigma de que o nosso país é o maior consumidor de agrotóxicos
do mundo. São 5,2 litros de agrotóxicos por ano colocados no prato dos
consumidores. Fico agoniada quando vejo certos discurso de que “Precisamos
produzir alimentos para o mundo”, ou então “Só os grandes permanecerão”, porque
isso fere nosso projeto de vida, de soberania alimentar. Há muitos anos
gritamos que “Se o campo não planta a cidade não janta” e se o campo plantar
veneno a cidade inteira morrerá nele. Enquanto se pensa em mecanizar o campo,
fazendo do camponês um escravo cooperativista, perdemos em qualidade de vida,
em alimentação saudável.
Agrotóxico não é uma necessidade é um
princípio do capitalismo de produção, com ideal da lucratividade e quem perde
com isso, somos nós. Muitas pesquisas apontam para os problemas sérios que os
transgênicos trazem para a nossa saúde. No documentário sugerido, alguns podem
ser citados como: Lapso de memórias em crianças, aborto, envenenamento do leite
materno, sistema reprodutor comprometido, entre outros. O que é mais estranho,
esses venenos postos a nossa mesa são proibidos segundo cita o vídeo, em países
como Estados Unidos e China mas no Brasil, nós o consumimos. Vale a reflexão
sobre esta revolução verde, que há anos, tem matado a terra e os filhos da
terra. Que projeto é esse, que envenena nossa comida, nosso ar, nossa água,
nossa terra, e mata a gente? Até a próxima.
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O “negócio” do
Jornalismo
A Coluna Palavra Nua festeja nesta semana uma boa notícia. Além de
sua publicação semanal no Gazeta Catarinense, recebe o convite para dividir
espaço no Blog ‘Esportes em Debate’. O convite muito bem aceito, se deu através
de um companheiro da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular
(Apafec), Jilson Souza, de Fraiburgo, que neste processo e ideal de construir
comunicação Alternativa e Popular, muito contribui. Agradeço imensamente a
oportunidade e para esta semana, trago alguns questionamentos sobre ela, que
movimenta e rege a formação de opinião de muitas pessoas: A imprensa.
Depois de ouvir e assistir algumas reportagens neste fim de
semana, recordei-me de todas as intrigas ferrenhas compradas a preço alto em
uma sala de aula da faculdade. Por fazer parte de um coletivo questionador da
imprensa, por muitas vezes tentava falar sobre um Jornalismo diferente e sobre
o processo de ajuda para construir isso, mas poucos eram os interessados. Com
base nisso, trago para esta edição da Palavra Nua, uma grande preocupação: “O
negócio do Jornalismo”, essa forma de vender a informação e alimentar mentes
prontas para consumir isso e outras tantas cruas, que serão moldadas a partir
dessa verticalidade apresentada.
Embora não queira aqui generalizar dizendo que todos os indivíduos
são manipulados, remeto a falar sobre uma grande maioria, isso porque, a forma
de se fazer notícia no mundo midiático ultrapassa qualquer valor do Jornalismo.
O próprio autor Marcondes Filho já dizia que a mercantilização deste fazer,
prejudica de forma intensa os que acompanham o mundo pelo viés jornalístico e
dependem dele para se manter informados. As transformações na linguagem, o
empobrecimento cultural, histórico, antropológico são substituídos pelo culto à
personalidade, o endeusamento a pátria, e assim, a história é narrada na mídia
tradicional conforme seus objetivos e mediante interesse de quem a coordenada.
Não há um estudo aprofundado na maioria dos casos, e a cada dia surgem novos
heróis.
Trago para
reflexão esta preocupação que devemos ter ao receber informação. Sabemos que pela
forma como as palavras são postas, elas influenciam positivamente e negativamente
a visão de quem a lê e aí está um problema que recaí também no Jornalista ou em
quem reproduz uma informação sem possuir esclarecimento da realidade. O
Filósofo Immanuel Kant faz uma ligação associativa ao conceito de autonomia,
interligando a emancipação do ser com o esclarecimento através da escrita.
Nesse contexto midiático, entende-se que o indivíduo não atingirá a autonomia necessária para emancipar-se do
status quo reproduzido secularmente se não existir um compromisso com a
informação, com o Jornalismo.
Esta sabotagem de
informações é também muito bem descrita pelo pensador Nelson Werneck Sodré, que
apresenta a imprensa como sendo o reflexo historiográfico desse sistema
(capitalista), que associa a informação a constante luta pelo controle social,
cultural e político do país. Em sua obra “História da Imprensa no Brasil”, o
autor faz um resgate importante do papel arbitrário que a imprensa desenvolveu
ao longo dos séculos. Ao invés de contemplar a realidade humana presente na
sociedade e suas especificidades culturais, Sodré destaca a ligação dialética
persuasiva sob a qual a imprensa teve base para desenvolver seus conteúdos e
instigar a mudança de comportamento do indivíduo.
Se pararmos para analisar, a imprensa passou ao longo de sua
história, que é nossa também, a desempenhar um papel de convergente de um
contexto marcado pela reprodução de ideais capitalistas, cujos meios de
comunicação, estavam e em muitos casos ainda são controlados pelas forças
governamentais, interligadas ás forças econômicas que buscavam associar e
massificar o controle da imprensa à propriedade privada.
Basta recordarmos da censura que predominava na imprensa colonial
e que até hoje é visível quando se é possível perceber uma imprensa oficial
divulgando valores da oficialidade, de agrado aos escolhidos. Ainda que tenha ‘evoluído’,
a estagnação as culturas, a omissão de fatos, se faz muito presente. O
jornalismo se tornou tão rentável a ponto da notícia se tornar negócio e do
espetáculo tomar mais espaço do que devesse ter. Ainda sobre isso, é possível
compreender que a neutralidade jornalística defendida por muitos, é
inexistente, até porque o Jornalista é um ser pensante e que defende e
contraria certos ideais presentes na sociedade, inclusive, é isso que diferencia
profissionais uns dos outros.
Creio que é preciso avançar. Deixar de acreditar em tudo que se vê
como verdade universal. A imprensa está predominantemente corrompida e isso têm
ocasionado um colapso grande entre informação e negócios, descrição da
realidade mediante estude e puramente reprodução para abastecer um mercado
consumista. Paulo Freire já dizia que “é preciso ler o mundo para além das
letras”, e o que estamos fazendo afinal? Volto a mencionar Marcondes Filho para
contribuir com o leitor. Segundo ele, devemos buscar autonomia da imprensa, e
isso significa que a nossa tarefa é buscar um esclarecimento da nossa mente com
relação ao mundo, diria que é uma tarefa emancipadora de reconhecer que a condição
humana é de exploração e que os meios de comunicação tem uma tarefa, que não é
a de servir aos interesses do capital.
Por isso precisamos PENSAR. Estimular nosso cérebro, parar de
acreditar que a imprensa é a detentora da verdade porque não é. Não no contexto
social que vivemos, muito menos pelo que a história nos revela. Nem todos os
que atuam na imprensa são comprometidos com a informação, e os que tem
resistência com isso, sofrem muito, isso porque, “O negócio do Jornalismo”
atrai muita gente interesseira. Vale a reflexão. Até a próxima.
Palavra
Nua – Por: Claudia Weinman jornalista
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Justiceiros” e a
“mais-valia ideológica”
Não é de hoje que uma parcela da
sociedade remete-se a acreditar na justiça feita com as próprias mãos,
amarrando indivíduos em postes, desferindo socos, pontapés, pauladas até a
morte de quem cometera, em algum momento, suposta adversidade. Nesta semana, mais
um ser humano foi morto dessa maneira, no Maranhão. Suspeito de ter cometido um
assalto, agoniou até a morte preso em um poste enquanto pessoas a sua volta o
agrediam truculosamente, até não mais resistir.
Pode ser que, ao escrever sobre
isso, venham alguns questionamentos, os mesmos feitos por uma Jornalista no ano
passado que sugeriu que quem sentisse “dó” que levasse para casa, cuidasse “o
pobre negro”, desse jeito. Uma análise comum, de um nível de consciência que
não se pode considerar pois não se trata de ter dó, ou piedade, estamos aqui
questionando essa maneira de alguém achar que pode fazer justiça dessa maneira,
de achar que possui o direito de matar da forma mais cruel outro ser humano.
Uma companheira comentava nesta
semana, será que é dessa barbárie que Marx e Rosa Luxemburgo tanto falavam?
Exato! Porque não existe outra palavra para explicar tal ação que é
injustificável. “Por que roubou? Por que não vai trabalhar? Por que isso...Por
que aquilo...” As perguntas são sempre as mesmas. Dona de Casa Fabiane Maria de
Jesus (SP), Pedreiro Amarildo de Souza, morador da favela da Rocinha, Doméstica
Cláudia Silva Ferreira, moradora do Subúrbio do Rio de Janeiro, arrastada por
350 metros pelo carro da Polícia Militar. Todos\as trabalhadores\as, pobres,
negros, mortos ou desaparecidos. Algum “porquê” foi interrogado nestes casos?
Parece-me que essa dormência que atinge os brasileiros é doença. Sim. Uma
doença que tem nome: “Mais - valia ideológica”.
Recordei da leitura sugerida pela
Jornalista Elaine Tavares sobre o livro de Ludovico Silva, onde ele tras esse
termo e analisa todo o agendamento feito pela mídia brasileira e remete-se a
sugerir que o ser humano preso a essas insígnias, absorve toda a bomba de
veneno, e similar a uma agulha hipodérmica, essa parcela de indivíduos passa a
acreditar em tudo o que vê na televisão. Baseiam a sua opinião apenas no que os
canais transmitem sem procurar resistência em outras fontes e essa mais-valia
ideológica gera uma produção cada vez mais consistente para a indústria do mas
media.
Parte desses indivíduos,
tornam-se dependentes do que consomem midiaticamente, e reproduzem não apenas
opiniões violentas, passam a agir carregando nas mãos, uma espada informativa
criada por essa mesma indústria ideológica em potencial. Segundo Elaine
Tavares: “Não há história, não há contexto. É só a violência por si. O que é
óbvio, porque se esses programas contextualizassem a violência desenfreada e
crescente, ficaria claro para as pessoas os motivos disso. Não há interesse em
criar conhecimento sobre a realidade. O objetivo da indústria ideológica é
atuar no reino da sensação”.
E neste ‘reino’, moradores\as
pobres, negros(as), de comunidades periféricas são os mais afetados. Vejo uma
sociedade adoecida defendendo a ‘moral e os bons costumes’, com base em
privilegiar uns, excluindo outros, promovendo linchamentos e justificando ações
a partir de uma transmissão vertical da mídia. Percebo que a barbárie está ai,
sanguinária e impiedosa.
Até a próxima.
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